terça-feira, 26 de maio de 2009

Jesus don't want me for a sunbeam

Na sua coluna semanal no Seattle Weekly, Krist Novoselic fala do amor que os Nirvana tinham pelos Vaselines. Nada mais oportuno, ontem chegou a minha cópia do vinil de Enter The Vaselines, a nova compilação desta banda da Escócia.
Como muita gente, também conheci os Vaselines através dos Nirvana. Primeiro com duas versões em Incesticide e depois com Kris a tocar aquela canção com acordeão no Unplugged. Isto instigou-me a procurar a musica original e descobri uma banda algo punk mas com uma sensibilidade pop muito forte e original.
As composições deste duo são de certa forma intemporais. Passados quase 20 anos de ter sido gravada, esta música podia aparecer hoje no myspace sem parecer datada. Aliás, é inevitável a comparação com os The Pains Of Being Pure At Heart, que sendo mais abrangentes nas suas fontes de inspiração (shoegaze?), canalizam a mesma atitude de romantismo fatal com guitarras.
Já agora, os Pains vêm a Paredes de Coura este ano. São uma nova banda a acompanhar com atenção. Os Vaselines também voltaram à estrada mas Portugal não deve fazer parte dos planos.
The Vaselines - Molly's Lips (Dying For It EP, 1988)
The Pains Of Being Pure At Heart - Young Adult Friction (The Pains Of Being Pure At Heart, 2009)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

I guess you are afraid of what everyone is made of.

Nunca pensei que não fosse ter saudades do Porto. Nunca supus pensar que o meu sítio é onde nós estivéssemos os dois. É ainda mais estranho, porque não pensava assim apenas há uns meses atrás e agora dou-me conta que as coisas mudaram. Que eu mudei. Que o mundo onde vivia roda agora à tua volta.
A única coisa que ficou foram os meus discos e um punhado de amigos. Pela borda fora foi aquela vida de loucura e/ou excesso que tinha. Ok, não toda mas uma boa parte. E sinto-me bem assim. Não fujas nunca.
The Kills - Crazy (Black Balloon EP, 2009)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

I've come to wish you an unhappy birthday

Com o passar do tempo e a irritante sucessão de aniversários, às vezes dou comigo a pensar no efeito da idade na minha existência. Coisas profundas e melodramáticas. Normalmente ao som dos Smiths ou por uma banda por eles influenciada. É fácil, são como cogumelos. Há mil versões pálidas de uma das bandas mais inteligentes, e menos psicologicamente saudáveis, de sempre.
Hoje
Morrissey faz 50 anos. Com o seu último disco demonstrou que é possível ter essa idade e continuar a fazer música relevante (ao contrário de uns Stones, por exemplo). De certa forma, Morrissey é uma figura inspiradora para encarar os próximos anos com determinação. Ia escrever optimismo, mas isso nunca foi uma das suas qualidades como se sabe.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

You got a heart so big it could crush this town

Hoje tou com esta música na cabeça..

Há dois meses passou um tornado em Lisboa. Mas só eu é que vi.

Desculpem a falta de posts. A vida corre bem e (felizmente) há outras coisas que me preenchem o tempo. Não que não desfrute de reler o que escrevo aqui. São apontamentos e ideias que revisito frequentemente. É como poder reviver o dia-a-dia numa perspectiva mais crítica.
Não sei se repararam na coluna da esquerda. Ando a acrescentar alguns dos tweeters que acompanho, mais ou menos frequentemente. St. Vincent, Edward Droste dos Grizzly Bear (e se alguém sabe o da miúda dos Camera Obscura agradecia a dica). Não vejo utilidade em ter um. O que é que eu diria do meu quotidiano? A caminho do escritório, pausa para café, cut&paste, reunião com o chefe, reunião com cliente, powerpoint, excel, o windows crashou... Podia quando muito alertar para as chegadas dos meus vinis (hoje foram os Air, o primeiro de St. Vincent e Reminder da Feist, amanhã anuncia-se a chegada da compilação dos Vaselines).
Logo ponho alguma musica. Mas não sei se vou ter tempo. Afinal, hoje faz dois meses que um tornado passou por aqui. Há que celebrar.

sábado, 16 de maio de 2009

A thing that no one else has, but you and I.

Uau, a vida às vezes parece uma montanha russa. As voltas que dá. Como podemos mudar a nossa visão das coisas. Eu não sei se vamos depressa demais. Sei que é óptimo assim e que não quero que acabe nunca.

Wilco & Feist - You and I (Wilco (the album), 2009)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Réquiem pelo álbum

É curioso que passado 15 dias de receber o meu vinil de Dookie, os Green Day estejam prestes a editar um novo álbum. Lembro-me que, antes da era das compras online, me vi e desejei para ter este cd. A MTV passava Basket Case a toda a hora mas por cá não se passava nada. Corria o ano de 94 talvez. Passados estes 15 anos é surpreendente como os Green Day ainda são noticia. Tiveram a sua travessia do deserto, como qualquer politico que se preze, mas voltaram maiores do que nunca. Por muito que o som que produzem já faça parte do meu passado, Dookie é uma obra prima do punk moderno.
O que é ainda mais surpreendente é como os Green Day são, provavelmente, uma das bandas que melhor carrega a bandeira do álbum de rock. Se o single foi algo determinante nos anos 50/60, o álbum dominou o final do século XX. Não há nada que supere um conjunto de musicas unidas por um tema/espírito/som. Como Lou Reed diz nas notas de New York. Um álbum deve ser ouvido como se vê um bom filme. Na época do mp3, do ipod shuffle, do imediatismo, é interessante assistir aos Green Day a chegarem a um novo momento alto com dois álbuns conceptuais. Seguidos!
Posso parecer antiquado, quando falo disto desta forma, como o Velho do Restelo. Na verdade continuo a gostar de ouvir um disco do principio ao fim. E deixo-o crescer com várias audições. Daí a minha nova obsessão por St Vincent. Nunca é demais lembrar que ninguém gosta de Super Bock à primeira. Como sempre é preciso estudar a matéria para a entender. A música é mesmo assim. Um prazer redobrado quando se percebe a razão de gostar de alguma coisa.
St Vincent - Actor Out Of Work (Actor, 2009)

If we tolerate this, then our children will be next

A capa do novo disco dos Manic Street Preachers foi censurada pelos maiores hipermercados britânicos. Não sendo uma grande apreciador dos Manics, detesto o conceito da censura. Os rappers americanos glorificam a violência e o tratamento das mulheres como objectos. Isso vende, por isso aceita-se.
Os músicos brancos de rock só podem apelar à sua tradicional embriaguez e dependência das drogas. Nunca ao gosto pela arte, claro.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

You're the piece of gold that flushes all my soul

Ficar em casa agarrado a ti a ver aquela série complicada... ouvir-te queixar do teu corpo perfeito... esse doce sorriso quase envergonhado quando eu digo uma das minhas patetices... quando dizes aquele "Oh Luis..." que me deixa sem defesas...
Todas estas coisas não têm preço. Podia viver disso. Só disso, sem pão nem água.
"Here I'm alive, everything all of the time...
This is really happening."
Phoenix - Playground Love (cover dos Air)
Calico Horse - Idioteque (cover dos Radiohead)
Tudo via Rollo&Grady

quinta-feira, 7 de maio de 2009

No Alternative

O David Byrne tornou-se nos últimos anos num guru da musica alternativa/indie (escolham ou inventem uma classificação). Alguns dos grandes músicos da actualidade querem trabalhar com ele. E ele parece divertir-se muito a fazê-lo. Falo de TV on the Radio, Dirty Projectors, Bon Iver, Feist e por aí fora. Isso faz dele uma das pessoas mais influentes da cena musical, e quando ele fala, para-se para ouvir (não necessáriamente para concordar).
Já tinha falado aqui sobre uma das obras primas dos discos de beneficência (isso existe??). Não, não é o cd do No Alternative que eu guardo com afecto no Porto (e que me recorda o episódio em que eu e o Fundo Azul fomos a uma loja de discos no Brasília e no momento de pagar reparamos que não tínhamos dinheiro suficiente... nesse dia o nosso gosto musical valeu-nos um desconto do estilo "deixem cá o que têm e vão à vossa vida") . Em 93/94?
Estou a falar de Dark Was The Night, que tem sido um dos discos mais ouvidos no mp3. A minha cópia em vinil é especialmente deliciosa e também roda de vez em quando no meu quarto de Lisboa.
Num post no seu blog, Byrne, descreve como uma nova geração de músicos se dedica de forma intensa à musica que faz. Sem serem rock stars. Sem demasiadas substâncias nocivas. Só com muito talento e criatividade. Não são uma fábrica de música como seria montada por Henry Ford. Mas algo bem mais tradicional, como a senhora que passa o dia todo a fazer o seu doce de abóbora para vender na feira.
Estes são bons tempos para descobrir bandas novas a fazerem boa música. Claro que também temos os Jonas Brothers, o Eminem e os reality shows da MTV. A isso chama-se diversidade cultural e liberdade de escolha. Eu também gosto de ir ao McDonald's de vez em quando. É cómodo, é bom e não implica nenhum esforço da minha parte (infelizmente não posso dizer o mesmo do meu colesterol talvez).

(suspiro profundo)

Às vezes penso que te posso perder. Nesses momentos parece que me vou perder a mim mesmo.

Wilco e Feist - Jolly Banker (cover de Woody Guthrie)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Um raro momento de humor neste blog (ou quase)

Não é que a Apple recusa a aplicação dos Nine Inch Nails para o Iphone? Aparentemente, quem quiser comprar o Downward Spiral no Itunes está à vontade, mas a mesma música no Iphone é sacrilégio. Trent Reznor não perdeu tempo a mandar vir. Com alguma razão, diga-se. Um dos comentários no Stereogum é brilhante:

Trent wants to hurt Apple to see if they still feel
Posted by: mogmog at
05/04/09 12:00 PM

Hilariante. Ok, só para mim.

sábado, 2 de maio de 2009

Coisas que soam bem... (IX)

no meu gira-discos do Porto. Hoje encontrei o First Born is Dead em vinil a um preço de amigo.
Uau. Se o Nick Cave negro e assutador dos velhos tempos já é bom.
Nada chega ao orgasmo que é a sua interpretação de Wanted Man de Dylan (e Cash).
Procurem e ouçam. Imperdível.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Tonight we'll share the same dream, at the dark end of the street

Naqueles momentos em que me sinto mais sozinho não há como abrir uma garrafa de tinto e ouvir Cat Power. Ou os últimos discos de Dylan. Em que ele canta com uma voz velha e cansada. Transforma-se um momento que seria depressivo num exercício de reflexão. Parar para organizar ideias e seguir em frente.
Já esquecia outro dos vinis de eleição para este efeito: An American Prayer de Jim Morrison. As partes em que a sua poesia declamada é decorada por apontamentos musicais dos outros Doors. Algo que realmente funciona como um elixir de confiança. Ele senta-se ao meu lado para ouvir e sussurra-me ao ouvido que há mais coisas na vida do que damos conta. Que não somos invencíveis, mas podemos tentar.

Cat Power - Dark End Of the Street (Dark End Of the Street EP, 2009)