Atravesso a rua para o sítio onde trabalho, pego na caneta, espero. Chamo caneta a uma esferográfica vulgar, qualquer que risque me serve.
Terá sido a esferográfica que me riscou a testa com o tempo? Porque não voltas atrás e vês o que ficou escrito nela? Retratos, livros, papéis, eu a começar.
O telefone soluça como um bebé e, dentro de mim, o teu nome. Vozes de crianças por trás e tudo de súbito fácil, perfeito. Não sei bem o que digo, não sei bem o que oiço. Limito-me a afogar-me em ti como no mar.
António Lobo Antunes
PS: O apartamento onde vou viver em Lisboa foi onde morou Vitorino Nemésio, poeta e escritor, autor de Mau Tempo No Canal. Não é o fantasma de Arthur Lee ou Jimmi Hendrix, que de certo me fariam mais companhia mas para começar não está mal.
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